Piloto Mudd no comando da nave
Os norte-americanos gostam de comparam o Hip-Hop com Wrestlting. Acho a analogia boa, mas eu prefiro comparar com futebol: assim como o Cristiano Ronaldo de hoje é melhor do que aquele ponta habilidoso e voluntarioso que desembarcou em Manchester há 15 anos atrás, o Mudd de hoje é muito mais completo do que aquele que emergiu do fundo da Zona Leste com uma crew estilo Wu Tang Clan, o Hó Mon Tcahin. Aquele Mudd não sorriria na frente das câmeras, não dá maneira que ele ri a toa em “Piloto”, seu primeiro single solo.
Numa era que pra começar a produzir, mixar e masterizar basta um notebook, YouTube e disposição, muitos artistas trilham a linha do DIY, mas poucos com a qualidade do Mudd. “Piloto” segue um pouco a estética do boom bap que consagrou a carreira do Mudd desde dos seus primórdios, mas tem uma pegada melódica, de quem se apaixonou por outras estéticas e sonoridades e viu que o rap vai muito além do bumbo e da caixa. A rota está bem definida e em “Piloto”, Mudd mostra que está no comando.
A volta do Marciano
Numa era dominada por 808 e Hi-hats, Roc Marciano é um guerreiro solitário, uma espécie de Ronin do seu próprio estilo. A estítica vintage de Marciano se destaca por não cair na armadilha nostálgica da “era de ouro” do boom bap de Nova York, mesmo que este seja o seu principal referencial. Roc disseca completamente a estrutura do boom bap - deixando só essencial. É um estilo, evocativo, estranho e no limite, até meio místico. Desde Macberg, seu álbum de estreia, Marciano vem aperfeiçoando sua fórmula de rimas abstratas, loops elegantes e um swag digno de Shaft. “Downtown 81” faz parte do seu novo álbum, Mt. Marci, que depois de duas semanas sendo vendido exclusivamente no seu site, já está disponível na sua plataforma de streaming favorita.
Não traga amassado
A nostalgia e a fixação da cultura pop com seu próprio passado é um dos principais motores da indústria musical. Quer um exemplo? O “Set de homenagem aos relíquias”, é um dos grandes sucessos desse ano (quiçá o maior). Em “Encomenda”, o príncipe do gime brasileiro Leall faz referência ao clássico do Mc Tikão mas de forma sutil — tanto que os mais novos podem nem sacar a referência. De resto, é 100% drill: balacavas, tracksuits e um clima claustrofóbico que deixa a coisa como deve ser: aterrorizante. Não mude nunca Leall.