“Na música Girl from Rio, cantada em inglês, Anitta incursiona pelo R&B em gravação que embute sample do samba Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962), standard planetário associado à bossa nova." Parece piada, mais essas são as informações disponíveis no press release do próximo single e álbum de Anitta. No meu último texto aqui, discutiu sobre a farsa da internacionalização do funk, mas parece que o fenômeno da internacionalização é um pouco diferente.
Com o mercado de shows brasileiros estagnado, a estratégia das grandes gravadoras é transformar seus ativos brasileiros em produtos globais. “Nós acreditamos fortemente na riqueza cultural, no talento e na música brasileira como uma enorme fonte de hits globais e de artistas.” As palavras são de Ángel Kaminsky, Vice-Presidente da Universal Music Latin America. Com esse redirecionamento, fenômenos regionais tomaram conta do mercado brasileiro. Os Barões da Pisadinha foram os artistas mais ouvidos em streaming em 2020 no Brasil, com 1,5 bilhão de streams de áudio e vídeo. A explosão de ritmos regionais coincidiu com um crescimento inédito do mercado de streaming no Brasil: a renda com músicas gravadas no país subiu 24,5% em 2020.
No circuito das grandes gravadoras, o Brasil voltou a figurar o lugar de “província”, fora do circuito dos sucessos globais. No top 50 das músicas mais tocadas nas rádios brasileiras em 2020 (completamente dominado pelo sertanejo, que se transformou no gênero musical do Brasil urbano por excelência), a primeira música gringa aparece na 38° colocação. Na lista das mais tocadas no Spotify, só Dua Lipa aparece no top 10 (numa modesta 8° colocação). O Brasil, que já foi o “país do futuro”, voltou a ocupar seu lugar de colônia. Decorre daí a escolha aparentemente estranha da narrativa de “Girl from Rio”, para o próximo trabalho da artista brasileira mais “global” do mercado, evocando o passado idílico da Bossa Nova (nossa eterna música para exportação) e outros estereótipos associados ao Brasil no exterior, que estão sendo aproveitados até por artistas que não são nem brasileiros, como a australiana (!!!) Iggy Azalea.
O palco para “internacionalização” está montado, mas será que os resultados são satisfatórios? Se nos guiarmos pelos padrões da indústria, a resposta é simples: não. A única entrada na Billboard de Anitta, o cavalo da Tróia da estratégia global, foi com “Me Gusta”, que ficou no modestíssimo 91º lugar. Por 1 semana. O medo do “flop” internacional é tão grande que um dos fandoms da cantora fez uma vaquinha pra comprar as músicas do próximo álbum da artista no mercado norte-americano e alavancar a carreira da cantora no estrangeiro. Estranho, para dizer o mínimo. É duro o caminho para o sucesso do Brasil no “estrangeiro”.
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