A arte já não vende mais como antes...
Entre o continuam mediático digital e o chamado da arte, o que é ser um artista no século XXI no Brasil?
Afinal, o que é um álbum? Quando o Spotify era apenas uma ideia, álbuns eram mídias físicas - literalmente. Vinil, fita cassete ou CD, o álbum existia no mundo real. O esquema era simples: faça barulho com um single, descole um contrato com uma gravadora e lance seu álbum. A vida era simples, não é? O streaming mudou completamente a lógica do jogo - uma música pode estourar porque foi cantada no BBB , challenges de TikTok são responsáveis por carreiras inteiras.Tecnicamente, não é preciso nem de uma música completa pra “estourar”: um trecho de 15 segundos já basta — se você tiver a coreografia certa, é claro.
Se já não é possível mais definir o que é um álbum, o mesmo vale para os artistas. Afinal, o que é um “artista”? Na era analógica, era fácil ter um consenso sobre quem era uma artista (principalmente falando de música). Nem sempre o artista era famoso, mas ele tinha o orgulho de dizer que era reconhecido pelo seu trabalho, pela sua arte. Os algoritmos jogaram fora todo esse orgulho bobo, dissolvendo os artistas, músicos, produtores, dançarinos na figura do “influenciador”. E tem muita gente sendo pega nessa sinuca de bico: almejar o lugar de “artista” ou virar um “influenciador”. É esse grande dilema uma cantora que é figurinha carimbada dos festivais brasileiros está enfrentando.
Quando Sena diz "eu faço MPB, tá?” não é só força de expressão: ela realmente veio das trincheiras da MPB de pelúcia. Mas o mercado não tem pena: arte já não vende mais como antes. Quer dizer, você até pode até tentar ser “artista”, mas será confinado a palcos e cachês bem menores do que o Primavera Sound. O grande “artista” dos tempos de hoje precisa alimentar o continum mediático digital no qual todos estão inseridos. Ele precisa ser cantor, mas também um influenciador ou empresário. Ele precisa vender uma experiência (Tardezinha do Thiaguinho e Numanice da Ludmilla não me deixam mentir). Se você não tem esse tino comercial apurado, você precisa de um Carlinhos Maia, de uma farofa da Gkay. Não dá mais pra ser artista só frequentando as festinhas da Paula Lavigne da Regina Casé. É preciso ir no submundo dos influenciadores digitais e sujar um pouco as mãos.
Sena está enfrentando esse grande dilema: tentar ser a “nova Gal” ou tentar um lugar como estrela do pop brasileiro. O que sobrou da MPB já foi ocupado por gente como o Bala Desejo, que parecem muito confortáveis fazendo seu som para palcos e cachês menores. Ou Sena diminui seu cachê ou vai precisar ralar muito ainda do lado de Carlinhos Maia et caverna. É dura a vida do “artista” do mainstream nacional na segunda metade do século XXI.