Há algo de podre no reino da Dinamarca
Até quando vamos depender dos mesmos baluartes para dizer o que é preciso?
Antes que me acusem de etarismo, não tenho nada contra idosos. Mas é no mínimo estranho que os únicos artistas brasileiros que estão conseguindo traduzir a distopia de 2022 em forma de arte tenham mais de 30 anos de estrada. O que aconteceu com as novas gerações? Até quando vamos depender do Planet Hemp, Criolo e Racionais Mc's pra dizer o óbvio? O que aconteceu com o rap nacional?
Outubro foi um mês repleto de lançamentos relevantes, com álbuns de Djonga, Kyan e Planet Hemp. Os dois primeiros, tem a mesma origem: a Ceia Entretenimento. O selo de Don Cesão foi responsável pela pavimentação do caminho de Djonga para o mainstream brasileiro, o que possibilitou que o rapper da Praia Grande seguisse os mesmos passos. Djonga e Kyan são jovens, tem espaço nos line ups dos principais festivais brasileiros, mas alguma coisa com a música deles anda fora de sintonia: tirando suas bases de fãs — que na maior parte das vezes, considera seus escolhidos como semi-deuses à prova de críticas — seus trabalhos não ecoaram como o esperado.
Em que pese a velocidade dos tempos que vivemos, mas os dois álbuns não duraram nem uma semana fora da imensa bolha do mainstream. Djonga é acusado — com razão — de dizer as mesmas coisas, quase da mesma maneira, álbum após álbum. Afinal, ele lança um por ano desde 2017. “Dias Antes de Madrake” deve ser um sucesso para os fãs, mas não passa muito disso. Pouco ou quase nada se falou sobre o álbum onde ainda se tem coragem (e vontade) de se exercer a nobre atividade da crítica, como por exemplo na Inverso.
Do ponto de vista comercial, o rap brasileiro nunca esteve num lugar melhor. Entretanto, criativamente, a cena nunca sofreu tanto. Aliás, não sei nem se é possível usar esse termo, que pressupõe uma coesão entre quem está “em cima” (nos festivais, nos grandes palcos e se destacando nas plataformas digitais) e quem está “embaixo” (fazendo o corre independente). Um fosso separa as duas realidades. A roda gigante dos festivais continua girando como nunca e os “empresários” estão esfregando as mãos. A caravana do mercado não pára. E as mensagens relevantes que o rap — em tese — deveria trazer, se perderam na poeira.
ainda bem que temos vandal e davzera, entre outros...